sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

dela, que quer acariciar arrepios.


prá poder escrever, disfarçava a letra.
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não, dedos medrosos, ela não se toca nunca e só se masturba com a água do chuveirinho. encobre o som, barulhinho bom. esses outros cheiros que encobrem outros cheiros. a água do banho leva tudo pro ralo. ralo é coisa de nojo, ninguém gosta. mas pronto, pronto, foi tudo embora.
ela nunca se olha no espelho por baixo como fazem aquelas mulheres que ela viu na tv, ah, mas ela quer, ela quer tanta coisa vergonhosa... todo dia aplaca alguns vulcões e sente vontade de rir ou gargalhar com os olhos fechados e a cabeça assim meio prá trás, como quem já não se importa com mais nada. tem vontade de experimentar a liberdade dos loucos e ouve todo o tempo os choramingos da mãe ao telefone, o que a enraivece de uma raiva calada, catarro. gosta de cadeiras de balanço desde criança e de beijar os olhos fechados de quem ama. sempre se emociona com a dor dos outros e inventa tantas tristezas, tantas. tem queda por vícios.
se tivesse coragem, pularia a janela e deixaria de sentir vergonha da sua imagem. mas todo dia todo dia volta prá casa e ao chegar é que se lembra que nunca teve casa nem pouso. muda de sonho toda segunda, esbarra onde não pode, por ser imensa e pequenina. atrás das portas, é de encostar a cabeça na parede de olhos fechados e refugiar-se covarde e menininha em seus pensamentos, neles sempre tem...

publicado em 04/06/2009.

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